REFLEXÃO—1
É PRECISO SER “CRISTÃO MONOTEISTA”
Dizer que alguém è ou deve ser Cristão Monoteísta parece ser uma afirmação redundante,já que não se imagina a possibilidade de coexistência do Cristianismo com o politeísmo! Isto no entanto,muitas vezes,acaba acontecendo,pois descobre-se no entendimento humano a coexistência,contraditória e paradoxal,de uma fé cristã com um latente politeísmo que fica subjacente à figura proeminente do Cristianismo. Em outras palavras aparece em primeiro plano o Cristianismo e num segundo plano,um pouco “fora de foco”a crença num Deus Pai diferente e até contraditório com Jesus Cristo. Talvez nunca se apercebam,muitos cristãos,que abrigam em seu intelecto tal incoerência,convivendo a vida toda com a mesma. È preciso clarificar,neste momento,a questão,explicando-a melhor: qual ou quê politeísmo estaria subjacente ao Cristianismo que professamos? Naturalmente não seria aquele politeísmo básico de se aceitar a existência de mais de um deus. Será sim uma forma muito mais sutil de politeísmo que è o de se imaginar realidades diferentes e até contraditórias para o único Deus,de modo que na nossa mente, è como se existissem vários deuses. Sabemos que Deus è único e constituído de três pessoas e embora não possamos alcançar a essência desse mistério,podemos,através de nossa razão,ainda que limitada,concluir que as pessoas de Deus (Pai,Filho e Espírito Santo),cada uma de “per si,”
não poderiam ter uma atuação que fosse contraditória com as demais pessoas. Assim, se Deus è amor,as três pessoas serão amor. Como Deus è misericordioso as três pessoas serão misericordiosas. Não se poderia imaginar Cristo misericordioso e perdoador e ao mesmo tempo imaginar que Deus Pai seja castigador e impiedoso! Apesar disso,muitas vezes,aceitamos e alimentamos concepções de Deus que se constituem claramente no que estamos chamando de “politeísmo cristão” ou “cristianismo politeista”,expressões irônicas que traduziriam o fato de talvez inconscientemente, nós imaginarmos para Deus naturezas completamente diferentes e até antagônicas relativamente às pessoas divinas. Para demonstrar a existência dessa questão basta tomar como referência as Sagradas Escrituras,ali observando que nos è apresentada uma imagem de Deus,no Antigo Testamento,como um Deus severo e castigador,que não deixa culpas sem castigo,que não hesita em destruir seres humanos que o desobedecem. Já no Novo Testamento se nos apresenta a imagem de Deus ,que se mostra em Jesus Cristo,como um Deus de amor e de misericórdia,sobretudo. Em decorrência dessa aparente contradição convivemos com duas imagens de Deus,como se fosse possível que Deus fosse ora de um jeito,ora de outro. Alem do entendimento absurdo que assim se tem de Deus(o que chamamos de uma forma de politeísmo já que se acaba aceitando como que dois deuses contidos na figura de Deus),freqüentemente isso leva a uma desorientação pessoal pela impossibilidade de se conciliar idéias de Deus,contraditórias entre si e contraditórias com os atributos de perfeição que antropomorficamente se atribuem à Deus! Como aceitar um Deus que não perdoa e que discrimina pessoas e povos? Por outro lado,Deus teria mudado ao longo da història da humanidade ,tornando-se o Deus mostrado em Jesus Cristo?Desse modo sendo único Deus ter-se-ia alterado?Ou Deus não seria único? A especulação nos leva ao absurdo dessas hipóteses e somos convidados a fazer uso da razão humana,colocada a serviço de Deus,para humildemente suplicarmos a graça d’Ele,não para compreendermos a Sua realidade,mas para que não fiquemos reféns das contradições que nós próprios criamos pelas nossas limitações. Com a ajuda de Deus procuremos identificar onde està falhando o nosso entendimento,uma vez que Deus,por princìpio,somente pode ser único(mais de um deus seria a prova natural da inexistência de Deus,já que Deus para ser Deus tem que ser exclusivo. Em outras palavras um deus que coexistisse com outro/s seria inexoravelmente ,então ,impactado e restricionado pela existência desse/s outro/s,descaracterizando-se como Deus.) Logo Deus è único! Sendo Deus único Ele também è o mesmo em qualquer tempo e situação,pois do contràrio seria mutável e não poderia ser Deus. Isso se evidencia ao imaginarmos que Deus mudando-se teria realidades diferentes,em situações diversas,descaracterizando-se também como Deus. Para ser perfeito Deus tem que ser imutável,pois o simples fato de passar a ser diferente do que era implicaria em uma imperfeição passada ou futura,decorrente ou causa da mudança. Portanto Deus è único e de mesma natureza sempre! Mas se Deus è único e de mesma natureza sempre,onde està o engano quando observamos imagens de Deus diferentes,no Antigo e no Novo Testamentos? Com certeza uma das duas imagens està errada! Sem dùvida a imagem de Deus mostrada em e por Jesus Cristo não pode ser a errada (em conseqüência de entendimento errado de nossa observação humana). Não pode estar distorcida pela nossa apreensão,já que essa imagem não è uma representação do hagiógrafo,atribuindo à Deus fatos da història(como ocorre com freqüência no Antigo Testamento,sem que Deus tivesse tido participação visível nesses fatos). A imagem de Deus mostrada em Jesus Cristo è uma realidade vivida humanamente por Cristo,conforme relato das Sagradas Escrituras. Cristo è Deus conosco! È Deus vivendo conosco!(Quem me vê,vê o Pai,diz o próprio Cristo-Jo 14,9). È o próprio Deus que se mostra de forma visível,real e sensível através da humanidade de Jesus. Podemos dizer que no Novo Testamento,vemos efetivamente o interior de Deus,o Seu coração,quando tomamos conhecimento da vida de Jesus,ali relatada. A personalidade de Jesus,tão claramente mostrada no Novo Testamento,nos permite e nos exige fazer a releitura do Antigo Testamento corrigindo as distorções provocadas pela nossa própria insuficiência. Sabendo que Deus è único e imutável e que Ele è como se mostrou em Jesus Cristo,percebemos que o engano na identificação da realidade de Deus,no Antigo Testamento,decorre da interpretação fundamentalista que muitas vezes se faz das Sagradas Escrituras. Imagina-se muitas vezes,que tudo lá escrito deva corresponder exatamente à verdade dos fatos històricos ocorridos.Imagina-se também que Deus seja o que se diz que Ele è! È preciso compreender que as Sagradas Escrituras mostram a iniciativa de Deus que se utiliza do entendimento,ainda que precário,do próprio ser humano para através da història da humanidade levar os homens a ir progressivamente encontrando a Ele(Deus),até que finalmente O identifiquem em Jesus Cristo! Poderíamos então dizer que as Sagradas Escrituras mostram a evolução da imagem de Deus,vista pelos homens! Deus è imutável,porem a Sua imagem para nós é mutável,na medida em que somos mudados pela graça de Deus,crescendo a nossa fé n’Ele.(Deus falou diversas vezes e de modos diversos,através dos profetas e agora nestes dias que são os últimos,nos falou pelo Seu Próprio Filho:Jesus Cristo—Hb1,1). Assim podemos,com certeza,dizer que Deus não fez e nunca faria as coisas terríveis que a pequenez humana a Ele atribuiu no Antigo Testamento. Trata-se daquilo que se chama :antropomorfismo ou seja: atribuir-se a Deus condições e características humanas. Como a humanidade ,muitas vezes,está equivocada, na eleição dos seus próprios valores,pode cometer erros graves,de acôrdo com a cultura vigente e tem a tendência de imaginar que Deus possa agir de forma semelhante. Por exemplo,considerando-se que seja correto e normal fazer discriminações de pessoas e povos,imagina-se que Deus também aja assim. Imaginando-se que seja justificável a prática de guerras,pode-se pensar que Deus também esteja de acôrdo com isso. Imaginando-se que certas atitudes tem que ser castigadas com a morte,pode-se pensar que Deus assim o faça . Deus na sua bondade infinita,fazendo uso da sua misericórdia e da sua paciência também infinitas,esperaria o tempo que fosse necessário para que cada pessoa em particular e a humanidade como um todo,percebesse que Ele jamais agiria de forma contraditória com sua própria natureza,que se caracteriza pelo amor e pela misericórdia infinitos, de um Pai que é Deus,para com os homens ,seus filhos amados!É por isso que se diz que é preciso ser um cristão monoteísta ou seja um cristão que acredite que realmente há um só Deus que tem três pessoas,mas que tem uma única e mesma natureza divina,que é aquela mostrada por e em Jesus Cristo. Qualquer imagem de Deus que não seja perfeitamente concordante com a personalidade de Jesus deve ser descartada,como falsa,esteja ela onde estiver,ainda que nas Sagradas Escrituras. As Sagradas Escrituras mostram a caminhada da humanidade que vai,pela ação de Deus,descobrindo-O progressivamente,até encontra-LO ,finalmente, em Jesus Cristo. Esta caminhada é cheia de altos e baixos e se repete para cada um de nós. Somente na medida em que procuramos ser melhores,como pessoas humanas,é que conseguimos então imaginar,um pouquinho que seja a perfeição de Deus!Tudo isso pode acontecer conosco pela graça da bondade de Deus,que muitas vezes nem percebemos. Em resumo,somente o homem que fosse verdadeiramente bom conseguiria imaginar Deus como Ele realmente é! Por isso nossa imagem de Deus estaria sempre infinitamente aquém da realidade,não fosse a existência de Cristo no nosso meio,pois somente Ele(Cristo) é homem verdadeiramente bom e que portanto possibilita o antropomorfismo correto para com Deus. Olhando e vendo o homem Jesus Cristo,vemos claramente como Deus é!
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
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