Reflexão- 16 " O Livre Arbítrio "
Muito se fala sobre o chamado:"Livre Arbítrio" do ser humano,pouco se atentando para o seu real significado.Há quem pense que o ser humano nada tenha de "livre arbítrio",considerando que ele (cada ser humano),é o resultado de uma "carga genética" de herança,biologicamente recebida através de seus progenitores,combinada com os condicionamentos decorrentes das interações do indivíduo com o seu meio ambiente,e nada alem disso.Assim nega-se a existência de qualquer discernimento por parte do próprio indivíduo, influenciando sua trajetória de vida.O ser humano é então visto como fruto decorrente somente da sua própria genética e das "relações com o ambiente".Tal modelo,alem de não nos parecer, adequadamente fidedigno á realidade do ser humano,é um modelo representativo ,muito frustrante para o próprio ser humano,uma vez que o reduz a uma "marionete" cujos cordéis são "movidos" pela "carga genética" e pelas "relações ambientais".O ser humano aí é um elemento totalmente passivo que não constata a sua própria realidade tomando consciência dela,mas tão somente sente-se bem ou não, e caso não se sinta bem,fica submetido á seguinte problemática: Como não é possível alterar a "carga genética",(podendo-se somente atuar minimizando seus efeitos, de forma restrita, através de fármacos),haveria a necessidade de se encontrar meios de mudar as "relações ambientais",de forma efetiva, para que assim melhorassem as condições de vida do indivíduo.Mas como se imagina que não haja nenhuma possibilidade de "análise,discernimento e decisão" ou seja ação intelectual de uma "mente pensante e coordenadora das ações do indivíduo"ter-se-ia que procurar alterar as reações do meio ambiente ás ações do indivíduo, de forma unilateral,para que então em consequência, se alterasse a vida do indivíduo.Porem as reações do meio ambiente são reações provenientes das pessoas com as quais se relaciona o indivíduo em questão, e como é que vai ser possível modificar o comportamento dessas outras pessoas sem que se crie nelas uma motivação para tal ?É claro que as pessoas consideram-se, e de fato o são,embora não totalmente, administradoras,das suas próprias vidas,e aceitarão ou não as propostas que julgarem convenientes a si próprias,inclusive no que tange às tentativas de mudanças nas suas inter-relações ambientais.Enfim tudo passa pelo "crivo" soberano da própria pessoa,validando ou não os caminhos a serem seguidos.Em outras palavras,está sempre presente um processo intelectual cognitivo e discernente, elaborado pelo próprio indivíduo e que se constitui,no terceiro elemento que entra na composição do indivíduo,enquanto ser humano,caracterizando a sua transcendência ao quadro restrito constituído pela "carga genética" e pelas experiências de interação com o meio ambiente.Trata-se da ação do "indivíduo pensante"que elabora,racionalmente ou não,suas próprias experiências de vida e toma decisões que influenciam fundamentalmente a sua realidade de ser,daí em diante.É o que se chama de "livre arbítrio" do ser humano,que sendo "arbítrio"não é completamente "livre"no sentido absoluto da palavra,uma vez que qualquer decisão, tomada a cada passo,é sem dúvida influenciada pelas experiências vividas,ou seja,pelo passado do indivíduo.Mas também há que se perceber que a capacidade intelectual do indivíduo possibilita que o mesmo faça ilações e projeções de eventuais repercussões no seu próprio futuro,decorrentes sim, de suas experiências vividas,mas que sugerem "opções de caminhos" que submetidos à análise discernitiva do próprio indivíduo,resultarão na escolha de uma ou mais opções,em detrimento das demais.Sempre se poderá insistir na consideração do ser humano como se fosse uma "marionete" alegando-se que ele nada decidiu,mas que as injunções de seu passado e da sua genética é que agiram,determinando os seus "caminhos".Tal interpretação,porem nada contribui para que o indivíduo possa conseguir solução para os seus problemas psicológicos.Pelo contrário,parece-nos que tal enfoque somente tornará tudo mais difícil, uma vez que haverá a tendência do próprio indivíduo não encontrar esperança para a solução dos seus problemas,que sendo vistos como decorrentes de sua herança genética(onde as possibilidades de intervenção são bastante restritas, como já foi dito,e ainda ficcionais pela engenharia genética) e também das interações com o meio ambiente,vistas como fora do alcance prático do próprio indivíduo(isto porque,excluindo-se a possibilidade de discernimento e de decisão do próprio indivíduo,restaria somente a possibilidade de tentar alterar o ambiente hostil ao indivíduo,o que é praticamente impossível,já que o ambiente é infinitamente complexo,variável e com tantos protagonistas,que "alguma coisa " que possa ser conseguida de êxito ,será com certeza, considerada completamente insuficiente) .Poderíamos comparar,talvez,com a situação de um pianista que tentasse puxar para si o piano,estando sentado no seu banquinho e ignorando a supremacia inercial do piano.Somente logrará êxito na aproximação, na medida em que os seus esforços fizerem com que ele e o seu banquinho desloquem-se aproximando-se do piano,que certamente continuará imóvel onde sempre esteve. Poderá acontecer até, que o pianista nem se dê conta de que o que aconteceu foi a sua própria movimentação a não a do piano,mas uma coisa é certa: ao tentar "mudar" o piano, o pianista é que se mudaria! Fazendo-se o retorno à nossa questão,podemos imaginar conseguir êxito,na solução de problemas psicológicos,tentando mudar o ambiente("arrastar o piano"),para que na realidade se modifique o indivíduo("deslocar-se o banquinho com o pianista até o piano"). Por outro lado, provavelmente, muito mais sucesso se poderá conseguir contando-se com o discernimento e as decisões do próprio indivíduo,através de processos especializados de terapêutica nos quais o terapeuta poderá orientar e auxiliar o processo de análise e discernimento do indivíduo levando-o a perceber os enganos de sua avaliação e de seu raciocínio quanto às suas relações ambientais e motivando-o portanto a tentar modificar o seu próprio comportamento,naqueles pontos identificados como focos de dificuldades relacionais.Admite-se assim a existência no ser humano de um "livre arbítrio relativo" que alem de nos parecer de real existência, e de efetividade terapêutica, resguarda a dignidade dos seres humanos como co-participes de sua criação e co-administradores de suas próprias vidas.
,12/12/2008
sábado, 20 de dezembro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.